O Caminho do meio

Nessas épocas de polarização em que vivemos, lembrei de uma história que eu inventei de contar para minha filha quando ela era bem pequenininha.

Uma dessas histórias que a gente conta na hora da criança dormir.

Eu lembro que ela tinha personalidade forte, ela era muito 8 ou 80. 

Daí eu contei uma história que na verdade servia muito mais para mim do que pra ela. 

É a história de uma lagartixa.

Ela era uma lagartixa muito feia, mas muito feia mesmo.

Ela era da cor preto fosco, muito diferente das outra. 

Tinha alguma coisa ali na cara dela que não dava pra distinguir os olhos da boca. 

Era realmente muito esquisita e chamava muita atenção por isso.

E todo mundo ali na vizinhança tinha um pouco de asco por ela.

Daí ela ficou muito triste, porque niguém era daquele jeito igual ao dela. E ela realmente chocava todos no ambiente.

Ninguém sequer tinha coragem de conhecer um pouco mais sobre quem ela era de verdade porque esbarravam na forma muito feia que ela tinha. 

Num dia desses de tristeza profunda, ela decidiu ir numa pedra de um lago pra tentar se matar. 

Não queria mais viver.

E quando ela foi se jogar da pedra no lago, de repente:  “plim”. 

Aparece uma fada madrinha. 

Aí a fada disse: o que está fazendo, vai cometer o maior de todos os pecados aí… por que? 

A lagartixa então contou sua história triste para a fada e a fada empaticamente ouviu tudo.

A fada disse: tá bom,  me diz o que você quer que eu realizo o teu desejo.

Ah, eu queria ser uma lagartixa lindíssima, diferente. 

Tipo assim, azul como o céu, mas cintilante…uma coisa brilhante como as estrelas, um azul cintilante.

E a fada foi lá e “plim”. Transformou ela em uma lagartixa azul cintilante, maravilhosa. 

A lagartixa foi viver a vida dela e passou a chamar atenção de todos. 

Não tinha nenhuma beleza igual a dela. 

Onde ela passava, as outras lagartixas, os outros bichos, todos ficavam boquiabertos.

Todo mundo achava aquela beleza fantástica.

E aí ela fez muito sucesso com aquela beleza estonteante, reluzente até.

Depois de um tempo, de muito sucesso, de muitos olhares…ela começou a perceber que ninguém conseguia enxergar quem ela era de verdade.

Ninguém buscava aprofundar relações e conhecer ela.

E agora ela se sentia tão ou mais sozinha do que quando ela era aquela lagartixa feia, fosca, que não dava nem para distinguir os olhos da boca na cara.

Então a lagartixa ficou triste, deprimida, pior ainda que da primeira vez.

Decidiu que era melhor subir na pedra do lago e se jogar para encerrar essa tristeza.

Daí, mais uma vez, aparece a fada madrinha, já prevendo o que a lagartixa ia dizer: 

Sim, e agora, o que foi?

A lagartixa explicou que estava sentindo uma dor, uma solidão muito maior que da primeira vez. 

Que a beleza que agora ela tinha era uma prisão maior ainda que a feiura dela, que ela estava muito infeliz.

Era melhor morrer e encerrar essa tristeza.

A fada madrinha com toda sua sabedoria e sobriedade então disse: 

Tá bom, vou atender o seu pedido, mas antes eu quero te dizer uma coisa. Pra chegar a um lugar extremo,  você precisa andar pelo meio do caminho. Porque quem anda por caminhos extremos, acaba ficando no meio do caminho.

Com certeza essa frase deu um nó na cabeça de uma criança de 9 anos, que era a idade da minha filha na época. 

Mas obviamente ela já estava dormindo e o fim dessa história era principalmente para mim, que sempre gostei de caminhos extremos. 

Então, cuidado com as polaridades. Cuidado com os extremos.

Normalmente o equilíbrio não está nem em uma ponta, nem na outra.

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