Era uma vez uma lagarta.
A lagarta é um verme rastejante, mas que tem o seu valor.
Ela sobe nas paredes com seu sistema locomotor extraordinário.
Ela consegue digerir uma roseira inteira sem sentir azia ou dor no estômago devido ao perfeito funcionamento do seu sistema digestivo.
Além disso, nunca se viu uma lagarta resfriada ou tossindo graças ao seu eficiente sistema respiratório cutâneo.
Um belo dia, essa lagarta do início da nossa história começou a entrar numa grande crise.
E começou a não ver mais sentido em subir parede.
Começou a achar muito ruim comer folha.
Acabou sentindo que respirar pela pele já não era mais isso tudo.
Então, o que fez essa lagarta em plena crise?
Ela chorou? Não!
Ela criou um casulo, colocou uma plaquinha lá fora de fechado para balanço e se entregou ao processo de metamorfose.
Ela abriu mão das suas especializações e se transformou num monte de células sem forma e cor definidas dentro daquele casulo.
Todos os tecidos especializados na locomoção, respiração e digestão derreteram.
Ela, literalmente, abriu mão de tudo que ela tinha.
O resultado desse gesto de entrega e não resistência foi que a natureza veio e esculpiu aquela massa amorfa transformando-a numa linda borboleta.
Olha só que incrível!
A lagarta rasteja em contato com as forças telúricas mais primitivas e animalescas.
A borboleta voa em contato com as forças aéreas sutis da consciência.
A lagarta parecia um verme rastejante, um bigato, uma coisa horrível.
A borboleta se assemelha a uma fada colorida.
Não há quem não se admire com a beleza estética e colorida de uma borboleta.
Enquanto uma rasteja, a outra voa.
Enquanto uma é um verme, a outra é uma fada.
Enquanto a lagarta destrói a roseira, a borboleta poliniza as rosas trabalhando para a reprodução das flores.
Sabe o que mais me impressiona nessa história?
Se você pedir o RG da borboleta é o mesmo RG da lagarta.
É o mesmo ser que se transformou.
As grandes transformações são assim…
Tudo começa com uma forte crise onde a vida não faz mais sentido.
Tudo que a gente faz começa a ser pouco.
A gente começa a se sentir muito medíocre.
Que bom!!!
Aí surge o desejo da transformação.
O desejo de realmente se conhecer e sair voando do outro lado da crise.
Benditas sejam as crises, porque elas nos movem.
Benditas sejam as crises, porque elas nos mostram que o passado já se foi e o presente precisa se transformar.
Benditas sejam as crises que fazem com que voltemos os olhos para dentro de nós mesmos.
Benditas sejam as crises que nos fazem querer ser um ser humano melhor.